Roseli Aparecida da Silva

 

Qual é seu nome? Roseli Aparecida da Silva
Em qual país, estado e cidade você nasceu? Brasil, São Paulo, São Paulo
Como foi sua infância ? Conte fatos marcantes. Minha mãe conta que fiquei internada 11 dias no HC de São Paulo em isolamento e que ia me ver diariamente. A visita era feita do lado de fora do quarto, somente através de uma pequena janela de vidro na porta e a ela era dito que não deixasse que eu a visse. Naqueles tempos a criança ficava sozinha sem nenhum familiar. Lembro do quarto, dos lençóis brancos, bem esticados no berço e eu deitada nele e que podia movimentar somente a cabeça. Lembro daquela janela na porta, de cabeças que apareciam e desapareciam. Lembro de estar no colo de um homem, já fora do hospital e eu chorava muito. Ao lado dele uma mulher. Eu via o prédio do hospital ficando cada vez mais longe… aquilo me afligia. Sobre esta minha lembrança que eu nunca tinha contado a um familiar, meu pai dizia que quando tive alta, ele foi me buscar, eu chorava e dizia que não queria ir embora e ele falava pra mim … “é o pai” … “é o pai”… E este casal me levou a uma casa e me colocou no chão gelado perto de uma criança loira que brincava sozinha e o casal ficou conversando… e eu não conhecia aquelas pessoas, nenhuma delas e nem o lugar. Fui aprendendo quem eu tinha que chamar de vó, tia… Isso tudo eu descobri em anos de terapia na minha vida adulta sofrida. Descobri também que a polio não afeta somente quem se infecta com o vírus, afeta muito alguns familiares, no meu caso foram minha mãe e irmã (aquela menina loira). Depois que tive a polio, o médico disse à minha mãe que eu nunca mais iria andar, isso foi minha mãe quem contou e quando ouvi isso dela fiquei imaginando o que uma mãe sente ao ouvir esta notícia… Mas depois de 3 meses eu me coloquei de pé novamente e disto eu tenho lembrança do dia, da hora e do momento, foi muito difícil arrastar uma perna sem vida e pular com a outra. Fiz seguimento no HC de São Paulo até os 9 anos. Lembro de levantar de madrugada, tomar dois ônibus, chegar no hospital, entregar o cartão, esperar na sala pela chamada, esperar na fila do consultório, lembro de ser a próxima a entrar no consultório e lembro indo embora passando por um jardim lindíssimo, mas não lembro o que acontecia da porta pra dentro daqueles consultórios. Mas o jardim eu lembro, era maravilhoso, ele me encantava. Somente aos 7 anos meus pais me colocaram na escola.
Como foi sua juventude? Conte fatos marcantes. Estudei sozinha, prestei vestibular em 1975 e entrei na USP, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto em 1976, fiz a faculdade em 4 anos. Sempre participei ativamente na disciplina de Educação Física desde o ginásio até a faculdade, após frequentava academia. Trabalhei 15 anos no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e depois 16 anos na saúde pública em Unidade de Saúde no município.
Como esta sendo sua vida hoje? Conte fatos marcantes. Não me casei, não tive filhos, moro sozinha. Conheci os sintomas da Síndrome Pós Polio através do Orkut, lá havia algumas comunidades de deficientes e uma delas postou os sintomas e eu me encontrei e vi que não eram “coisas da minha cabeça”, eram reais. Foi uma luta encontrar quem fizesse o diagnóstico aqui em Ribeirão Preto, médicos não conheciam a doença. Uma fisioterapeuta indicou um docente que atendia particular e ele diagnosticou e falou sobre um trabalho do Dr. Acary que estava em curso e que talvez eu pudesse entrar e que os resultados preliminares estavam sendo muito bons… então me encaminhou para lá. Assim foi que fiz as primeiras consultas na UNIFESP. Comecei o tratamento proposto. Depois de alguns meses eu aposentei e então consegui iniciar hidroterapia. Hoje vejo que estou melhor do que há anos atrás. Quando eu trabalhava era uma vida no nível do sacrifício, minha qualidade de vida era péssima, hoje posso dizer que é ruim, mas como já foi péssima, já foi no nível do sacrifício, estar ruim é bom eu não reclamo, é o melhor que posso viver. E está assim porque tenho muitos cuidados comigo mesma. Descobri que o Sol é meu amigo, preciso dele, meu corpo é como uma bateria de celular, precisa ser recarregada, se fico sem o Sol fico sem energia, sem ânimo, então coloco meu maiô e vou ao encontro dele. Acredito que tem a ver com a vitamina D. Minha energia melhorou: vit D + Sol. E este ano com mais ânimo resolvi pegar um cachorrinho e a partir daí eu já perdi 8 kilos, meu sono melhorou, meu humor também. Aviso que a primeira semana é de arrepiar, eu quase devolvi o bichinho, tanta dor eu senti de baixar e levantar, mas eu falava pra mim mesma aguentar só essa semana depois o corpo acostuma. Agora eu tenho um cãozinho lindo e amigo do meu lado, valeu todo esforço. Sabe, eu não me conformo com a coisa do “é assim mesmo”… do “não tem cura”… do “não tem jeito”… Pra mim tem que ter um jeito, então eu busco algum jeito.
Em caso de duvida
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