Beatriz Gertrudes de Almeida

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Qual é seu nome? Beatriz Gertrudes de Almeida
Em qual país, estado e cidade você nasceu? Brasil, Estado do Rio de Janeiro, cidade do Rio de Janeiro
Como foi sua infância ? Conte fatos marcantes. No dia seguinte a febre, fui levada pela minha MÃE ao Hospital Estadual Menino Jesus, Vila Isabel, RJ e de imediato veio o diagnóstico de Poliomielite, eu e minhas irmãs mais velhas estivemos isoladas das demais crianças da redondeza e minha irmã, que já estudava, foi afastada dos colegas da escola. A sequela ficou só na perna direita. Fiz fisioterapia até meus 4 anos e meio lá mesmo no próprio hospital. Nesta idade fiz duas cirurgia, uma no tornozelo (atualmente meu ortopedista disse que fizeram uma artrodese) e outra no meio da tíbia. Vivi a infância como qualquer criança, apesar de andar com a mão no joelho da perna direita. Mudei para uma cidade distante do Hospital mas minha MÃE continuou com o acompanhamento naquele hospital, que era referência no tratamento. Esperaram que crescesse e aos nove anos voltei a operar, a cirurgia foi no quadril direito, lembro que fiquei 3 meses engessada, da cintura até o pé direito, havia um pau que mantinha as pernas afastadas e eu, uma peralta, ficava de pé com a ajuda da irmã e caminhava como se fosse uma múmia. Quando voltei a andar já não colocava a mão no joelho direito, mas o andar não era suave, andava meio que pulando. Continuei a crescer e aos 13 anos fiz mais duas cirurgias, 7 meses inteiros dedicados entre internação e cirurgia, operei em fevereiro uma cirurgia no quadril e na virilha; sem dúvida as piores lembranças da minha infância; tive queimaduras na nádegas certamente ocasionadas pelo éter que ficou empossado na mesa cirúrgica, fiquei quase 24 horas por sobre as queimaduras sem que compreendessem razão das minhas reclamações, só no dia seguinte a enfermeira do plantão percebeu e chamou meus médicos, havia uma grande queimadura por toda a nádega, que fez receber tratamento para queimadura profunda e permaneci internada até a total recuperação. Nessa cirurgia fizeram uma artrodese onde fixaram na lateral da minha coxa duas hastes de aço que chegava ao meu quadril, estas permaneceram lá até junho, neste período fiquei em casa, voltei para que estas fossem retiradas no hospital e foram arrancadas a sangue frio por enfermeiros, um verdadeiro terror! Fiquei internada por 15 dias e voltei para casa. Permaneci engessada até agosto, seis meses de cama, quando saí do gesso, no local de onde arrancaram as hastes, a ferida cicatrizou junto com a gaze e um médico foi a minha casa para fazer a raspagem do local, mais dor e febre. A recuperação foi lenta e voltar a andar custou muito. Tudo isso está muito vivo em minha memória.
Como foi sua juventude? Conte fatos marcantes. Sempre fui muito falante e divertida, a sequela não me deixou trancada em casa. Me formei em Professora Primária, comecei a trabalhar com 18 anos. Fiz concurso público, sem cotas para deficiente, e trabalhava em duas escolas. Fui para a Universidade, vestibular sem cotas, rsrsrs, fiz um curso e depois voltei para fazer mais um. A jornada era uma escola pela manhã, outra a tarde e a universidade a noite. Não dirigia e não tinha carro, andava a pé e de transportes públicos. Quando podia e meu pai deixava, saía para dançar com os amigos. Lá pelos 35 anos começaram as dores no joelho, fiz tratamento fisioterápico e fui para natação, as dores melhoravam e quando voltavam, lá ia ao ortopedista cuidava e mantinha o ritmo normal da minha vida.
Como esta sendo sua vida hoje? Conte fatos marcantes. “Viajei muito nas minhas férias, pelo Brasil e pelo mundo, fui conhecer a família em Portugal e me tornei portuguesa, ganhei dupla nacionalidade, quanta honra! Em uma das minhas viagens levei um tombo de joelhos, estava em Londres, e quebrei meu joelho, mas fiquei por lá, pois ainda iria a Paris. Começaram as quedas! Quebrei o tornozelo e os dedos dos pés da perna com a sequela, tive algumas torções também. Trabalhei 34 anos, intensamente em duas escolas, desde professora até Orientadora Educacional.E também, na Secretaria Municipal de Educação de minha cidade por 12 anos.
Nesse ir e vir a fadiga e a dor foram tomando conta de mim. Quedas, tropeços e dores no joelho direito. Então resolvi me aposentar por tempo de serviço. Imaginei… nunca mais paro em casa! Até fiz isso durante um tempo, mas a cerca de dois anos tudo ficou pior. Dor intensa nas pernas, sim a perna sem sequela agora tinha dor, o ortopedista disse que eram as hérnias de disco pinçando o nervo ciático, era impossível caminhar com tanta dor, nenhum remédio curou, fiz uma rizotomia, aliviou 60%, mas não passaram minhas dores. Hoje minha saída de casa se resume em fazer o essencial, quase não caminho, não ando de transporte público, faço fisioterapia duas vezes por semana,tomo medicação prescrita por ortopedista e neurologista, mas as dores permanecem. Sinto dores a dois anos e dois meses. Impossível sorrir! “